ESPÉCIE: Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez.
FAMÍLIA: Bromeliaceae
NOMES POPULARES: caraá, carauá, caroá-dos-sertanejos, caroá-verdadeiro, caruá, coroá, crauá, croá, croatá, graná, gravatá
É uma planta endêmica (exclusiva) da Caatinga e do Brasil. Pode ser encontrada em todos os estados da região nordeste, além de Minas Gerais, na região Sudeste. Um dos nomes populares da espécie é "caroá", que tem origem tupi, "Kara'wã, que significa "talo com espinho".
Caracteriza-se por ser uma espécie herbácea, terrestre, estolonífera. Suas folhas possuem espinhos na margem e listras de coloração verde e branca em toda sua extensão, sendo denominadas como variegadas, e podem atingir mais de um metro de altura. Suas flores são agrupadas em inflorescências (que chamam atenção por apresentar eixo floral avermelhado) e apresentam pétalas tubulares, lilases a purpúreas e inodoras (sem cheiro). Os frutos são arredondados, pardacentos a avermelhados quando maduros, com polpa adocicada e comestível.
A floração ocorre principalmente nos meses de fevereiro e abril, em geral após a estação seca, variando assim de acordo com a região de ocorrência da população. A frutificação ocorre entre março e abril, em algumas populações a frutificação pode se estender por cerca de seis meses até a maturação total dos frutos.
Os beija-flores são seus polinizadores, mas abelhas e borboletas também visitam suas flores para coletar pólen e néctar (funcionando como insetos pilhadores). Cabe mencionar que o caroá se reproduz tanto por meio de sementes quanto vegetativamente (reprodução assexuada), através da formação de brotos laterais. No entanto, a reprodução assexuada é mais frequente, visto que seus suas inflorescências, frutos e sementes tendem serem consumidos rapidamente por bovinos, caprinos, pássaros e pequenos primatas, restando uma pequena quantidade de sementes disponível para germinação.
O caroá possui um grande potencial econômico, devido a produção de fibras, a partir de suas folhas. As fibras são utilizadas para confecção artesanal de cordas, redes, barbantes, cestarias, esteiras, sacolas, chapéus e tecidos. Em comunidades rurais do semiárido, as fibras são utilizadas também na construção de casas de taipas, como estrutura de sustentação do barro. Na primeira metade do século XX, a espécie teve grande importância econômica no Nordeste, visto que foi amplamente utilizada na produção de fibras têxteis e de cordas transadas, que se diferenciava de outras vibras por sua maior resistência. Com o surgimento de fibras sintéticas essa atividade foi abandonada pelas indústrias, mas a espécie ainda continua sendo utilizada por artesões, sendo fonte de renda para muitas famílias.
A espécie também apresenta potencial para produção de celulose, biocombustível, além de ser utilizada como ornamental, medicinal e alimentícia. Algumas pesquisas relatam que o caroá possui efeito antinociceptivo, anti-inflamatório, fotoprotetor, antioxidante, gastroprotetor e antibacteriano (contra bactérias gram-positivas e gram-negativas), além da presença substâncias com valor nutricional. Recentemente, pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), em parceria com pesquisadores da Universidade de Bergen (UiB) realizaram o isolamento, a caracterização e atividade antileucêmica de flavanóides presentes na espécie e, nessa análise, descobriram a presença de uma nova molécula para ciência, que tem potencial para ser utilizada, futuramente, no tratamento do câncer.
Estudos de incentivo à conservação do caroá e de sistematização de seu cultivo são necessários, visto que a espécie tem sido coletada de forma extrativista, resultando no seu desaparecimento local em algumas regiões do nordeste brasileiro. Somado a esses fatores, tem-se a dificuldade de propagação por semente (reprodução sexuada), visto que seus frutos são rapidamente consumidos por animais e suas flores só ocorrem em um período do ano e não fazem a autopolinização, dependendo exclusivamente de polinizadores para a formação dos frutos.
REFERÊNCIAS
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